Wednesday, April 15, 2009

Jose

José
by: Carlos Drummond de Andrade (With translation)
Posted by: Gregory Sartori

José
 
E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?
 
Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?
 
E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio – e agora?
 
Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?
 
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!
 
Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?
 
 
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José
 
What now, José?
The party’s over,
the lights are off,
the crowd’s gone,
the night’s gone cold,
what now, José?
what now, you?
you without a name,
who mocks the others,
you who write poetry
who love, protest?
what now, José?

You have no wife,
you have no speech
you have no affection,
you can’t drink,
you can’t smoke,
you can’t even spit,
the night’s gone cold,
the day didn’t come,
the tram didn’t come,
laughter didn’t come
utopia didn’t come
and everything ended
and everything fled
and everything rotted
what now, José?

what now, José?
Your sweet words,
your instance of fever,
your feasting and fasting,
your library,
your gold mine,
your glass suit,
your incoherence,
your hate—what now?

Key in hand
you want to open the door,
but no door exists;
you want to die in the sea,
but the sea has dried;
you want to go to Minas
but Minas is no longer there.
José, what now?

If you screamed,
if you moaned,
if you played
a Viennese waltz,
if you slept,
if you tired,
if you died…
But you don’t die,
you’re stubborn, José!

Alone in the dark
like a wild animal,
without tradition,
without a naked wall
to lean against,
without a black horse
that flees galloping,
you march, José!
José, where to?