Wednesday, April 22, 2009

Shoulders support the world

Submitted by Zachary R. Butler
 

Shoulders Support The World

                                                         Carlos Drummond de Andrade

                                                          (Translated by Len Sousa)

There comes a time when we no longer say: my God.
A time of absolute purity.
A time when we no longer say: my love.
Because love proved useless.
And eyes don't cry.
And hands only weave in rough work.
And the heart is dry.

Women knock at the door in vain, don't open it.
You stay alone, the light goes out,
and in the dark your eyes glow enormous.
You're convinced, you no longer know suffering.
And you expect nothing from friends.

Old age matters little, what is old age?
Your shoulders support the world
and it weighs no more than a child's hand.
The wars, famines, and talks in buildings
only prove that life goes on
and not all have freed themselves yet.
Some, finding the spectacle barbarous,
prefer (the delicates) to die.
There comes a time when there's no point in dying.
There comes a time when life is an order.
Merely life, without perplexity.

 

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Os Ombros Suportam o Mundo

Carlos Drummond de Andrade


Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.


Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.


Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teu ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.


Os versos acima foram publicados originalmente no livro "
Sentimento do Mundo", Irmãos Pongetti - Rio de Janeiro, 1940.  Foram extraídos do livro "Nova Reunião", José Olympio Editora - Rio de Janeiro, 1985, pág. 78.